segunda-feira, 23 de março de 2015

A história do odinismo no Brasil

Hails Unsaraim Gudam Ans jah Wans! 
Hails Visigoþ Þiudiska! 
Hails Haithnu þiuda!
Hails Broþru's Visigoths!
Hails Irmandade Odinista do Sagrado Fogo!


Ressalto antes de iniciar o texto que esse é apenas um trabalho inicial, onde apenas amarei algumas ideias no intuito de fazer algo mais efetivo em breve, aqui deixei vários recortes de fontes, bibliografia e algumas anotações minhas, faltando ainda uma explanação mais metodológica que pretendo fazer em breve.



Introdução – breve história do Odinismo antes do foco no Brasil


O paganismo germânico compreende uma séria de práticas que remontam as tradições religiosas dos povos germânicos na forma com que era praticada desde a era pré- medieval até a cristianização da Islândia, que era ultimo reduto do paganismo europeu no século XII.1 

Após a cristianização do norte da Europa, monges cristãos se darão ao trabalho de registrar em escrito o que os germanos e nórdicos transmitiam através da tradição oral. Assim surgem as Eddas e sagas islandesas, entretanto, por um longo período a religião pagã dos povos germânicos é considerada extinta, sobrevivendo apenas no registro escrito. Entretanto, focos do paganismo começam a ressurgir no mundo moderno. No século XIX temas como a Germânia pagã começam a se tornar bastantes populares, principalmente na Alemanha. Além dos estudos linguísticos dos irmãos Grimm, e das óperas de Richard Wagner, dou destaque ás publicações de Guido Von List2 .List foi um dos mais influentes escritores de ocultismo, sua obra “O segredo das runas”,3 é considerado pioneiro na runologia moderna e no “revival” pagão germânico. Guido vem a influenciar toda a geração nazista, no qual o misticismo era quase todo embasado nas ideias antissemíticas, arianistas, e nacionalista de Guido. Vários membros iniciais do Partido Nazista pertenciam à Sociedade de Thule, um grupo de estudo para antiguidade alemã. Acredita-se (por Louis Pauwels e Jacques Bergier em “O Despertar dos Mágicos” 4 em 1960 e por Gerald Suster em Hitler e o Age of Horus, em 1981) que os elementos ocultos desempenharam um papel importante na fase de formação do nazismo e da SS em particular, mas depois de sua ascensão ao poder de Adolf Hitler desencorajado tais atividades. Ponto 24 do Programa Nacional Socialista afirmou que o partido aprovou o "cristianismo positivo”, que não dependem da fé em Cristo como filho de Deus, ou o Credo dos Apóstolos e rejeitou as origens semitas de Cristo e da Bíblia.5

O Movimento da Fé alemã (Deutsche Glaubensbewegung), fundado pelo estudioso de sânscrito Jakob Wilhelm Hauer, gozava de um grau de popularidade durante o período nazista.6 Entretanto, Alguns místicos germânicos foram vitimados pelos nazistas: Friedrich Bernhard Marby passou noventa e nove meses em KZ, e o destino de Dachau, e Siegfried Adolf Kummer é desconhecido.

Vários livros publicados pelo partido nazista - incluindo Die Gestaltung der Feste im Jahres- und Lebenslauf in der SS-Familie (A barulheira na vida da família SS) por Fritz Weitzel, bem como o SS Tante Friede - ilustram como o Nacional Socialistas considerando o heathenry8 germânico como superstição tão primitivo e tradicional que era necessário retrabalha-la para melhor servir ao Estado. Comemorando as festas tradicionais, como as festas de julho e o Sommersonnenwende9 foram incentivados e reformulados em veneração do estado nazista e do Führer.10

 A apropriação da "antiguidade germânica" pelos nazistas foi a priori encarada com ceticismo e sarcasmo pela British Scandophiles. W. H. Auden em suas Cartas da Islândia (1936) faz sátiras da ideia da Islândia como um “vestígio Ariano”, 11 mas com a eclosão da II Guerra Mundial , o romantismo Nórdico na Grã-Bretanha tornou-se muito associado com a ideologia do inimigo para permanecer palatável, a tal ponto que J. R. R. Tolkien, como um ardente setentrionalista, em 1941, encontrou-se constrangido a afirmar que ele tinha um "...rancor privado contra aquele pequeno ignorante corado Adolf Hitler que arruinou, perverteu, aplicou errado, e tornando para sempre amaldiçoado o “espírito norte”, uma contribuição suprema para a Europa, o que eu já amei, e tentou apresentar em sua verdadeira luz ."12 Enquanto isso, na Austrália, havia uma próspera movimento Odinista bastante independente de qualquer coisa que estava acontecendo na Alemanha. Eles se antecipam a entrada do Japão na Segunda Guerra Mundial, e vários líder Odinistas (incluindo Rud Mills e Les Cahill) foram presos por defender que as tropas australianas devem ser retiradas da Europa para a Austrália para defender este país contra a agressão japonesa e para as suas associações políticas. Sua organização religiosa formal, a Igreja Anglicana de Odin, foi dissolvida e foram parar na clandestinidade (1942).13 Com o  tempo, os membros mais velhos do movimento australiano teriam tutelado uma geração mais tardia, que formaram a “Odinic Rite of Australia” em 1994.14

No início da década de 1970, as organizações pagãs germânicas surgiram no Reino Unido, Estados Unidos, e na Islândia, independentemente uns dos outros.15 Na Islândia, as influências de sistemas de crenças pré-cristãs ainda permeavam o património cultural do país no o século XX.16 O agricultor Sveinbjörn Beinteinsson fundou o grupo pagão Ásatrúarfélagið em 1972, que inicialmente tinha 12 membros.17 Beinteinsson serviu como Allsherjargodi (sumo sacerdote) até sua morte em 1993, quando foi sucedido por Jormundur Ingi Hansen.18 Como o grupo se expandiu em tamanho, a liderança de Hansen causou cismas, e para manter a unidade do movimento, ele deixou o cargo e foi substituído por Hilmar Orn Hilmarsson em 2003, época em que ele tinha acumulado 777 membros e desempenhou um papel visível na sociedade islandesa.19 A partir de meados da década de 1990, a internet ajudou em muito a propagação de neopaganismo germânico.20 A mesma década também viu aumentar o envolvimento dos germânicos neopagãos dentro do movimento pagão contemporâneo mais amplo e, em particular, com outras tradições reconstructionistas.21

No Brasil

No Brasil, primeiro foco registrado de paganismo germânico nasce em 1999 com a organização “Asatru Vanatru – Forn Sed Brasil”22 com um blog que é criado em 2006, mas que reivindica sua criação ao ano de 1999.23 A primeira página da AVFSB nasce em um blog hospedado no site da “Angelfire”, que continuou sedo mantido até 2004 de acordo com a mensagem na pagina inicial. Posteriormente passaram a ter um domínio próprio. Onde passa a ter uma páginaexplicando o motivo da existência do site, e onde encontramos:

  A Asatru Vanatru Forn Sed - Brasil é uma organização religiosa e cultural, sem fins lucrativos, que promove o culto e a divulgação da religião e da cultura germânica como modo de vida. Fundada em 1999 por Octavio Augusto Okimoto Alves de Carvalho (Godhi Medhal Mikit Stór-Ljon Oddhinsson) a Asatru Vanatru Forn Sed Brasil se dedica acima de tudo a formar uma família de pessoas com os mesmos objetivos e mesma visão de mundo, voltada para os valores antigos e dando pouca importância a hierarquias, a ´poderes sobrenaturais´, visando acima de tudo uma vida mais voltada a família, a natureza e as Nove Nobres Virtudes.24
A AVFSB foi por um bom tempo liderado por Augusto Okimoto Alves de Carvalho (Godhi Medhal Mikit Stór-Ljon Oddhinsson) até que em 2004 ele vem a falecer, o que parece marar o fim do uso do antigo site, dai, posso deduzir que apenas ele tinha autonomia ou o login do antigo blog. As causas da morte não são bem explicadas na dedicatória in memoriam que é feita no novo site. Hoje, o novo site está desativado a cerca de três anos. Apenas o antigo podendo ser usado normalmente, sendo necessário utilizar recursos de armazenamento da internet para acessar o novo site (por mais irônico ou paradoxo que isso possa parecer). 

Outra organização que surge no Brasil é a Irmandade Odinista da Águia Visigoda na América. Esta busca não apenas uma busca pela antiga religiosidade germânica, mas uma conexão tribal com o antigo povo visigodo, reclamando o direito de se considerar descendentes e herdeiros da tradição visigótica. Em sua página, a ênfase na questão étnica é muito forte, sempre frisando que brasileiros são descendentes dos povos da Península Ibérica e estes por sua vez, descendentes dos povos visigodos.

É difícil precisar quando a Irmandade da Águia visigoda surge no Brasil, posso afirmar que no Brasil ela aparece como foco da irmandade do México, que foi criada no mesmo ano da AVFSB. Posso apenas hipoteticamente deduzir que a criação do primeiro clã25 desta irmandade surge por cerca de 2003, data dos primeiros registro do site na wayback machine.26

Possível que quando o clã Falkar surja no movimento nacional, sua busca por uma conexão étnica com os povos germânicos seja interpretada de maneira prejudicial pelos odinistas mais antigos. O próprio Okimoto parece entrar em conflito com a nova organização o que não fica muito claro, mas é sobre isso que escreve Olivia Crisitiane Lopes no artigo “Gudja” do qual ressalto o seguinte trecho:

Não é por que um homem morre que os seus atos e atitudes morram com ele. O Okimoto não era racista, mas era preconceituoso, pois acreditava que todos que se aproximavam dele, ou eram nazistas, ou eram agentes infiltrados de outras organizações religiosas, e testava insistentemente a quem se aproximava dele. Atacava , via internet, várias pessoas, sem ao menos pesquisar para ver se as informações procediam, e nisto perdeu muito, principalmente algo que prezo muito, o respeito.

Este foi o motivo pelo qual eu, Adeltrud, e Aistan, nos afastamos dele, sem brigar. 27
Conclusão

O odinismo surge no Brasil primeiro como reivindicação de um direito de culto livre. Depois se orna a reivindicação de uma herança étnica perdida, o que gera conflito, talvez por questões de interesses das duas partes. Não é possível através das fontes analisadas concluir os rumos do conflito gerado, mas afirmo que não se encontra mais os membros da AVFSB, talvez por decisão de reclusão. É necessário mais tempos e recursos para se ter uma pesquisa completa acerca do assunto. O odinismo ainda é uma religião com sua história em curso, e torna-la historiográfica é um trabalho que demanda esforço que não pude legar a este trabalho inicial acerca do assunto.


Notas

1 PAXON, Diana L.. Asatrú - Um Guia Essencial Para o Paganismo Nórdico. São Paulo. Pensamento. 2009.

2 BALZLI. Johannes. Guido v List:. Der Wiederentdecker Uralter Arischer Weisheit - Sein Leben und sein Schaffen ; o segundo volume da Lista de Deutsch-Mythologische Landschaftsbilder , página 469 e imagem da página 523 e a introdução à tradução de Inglês Das Geheimnis der Runen .

3 Das Geheimnis der Runen. 1908.

4 PAUWELS. Louis. BERGIER, Jacques , Le Matin des magiciens. 1960.

5 VIERECK, Peter. Metapolitics: from Wagner and the German Romantics to Hitler , Transaction
Publishers, 2004

6 JUNG, Carl G. Wotan. Collected Works , Volume 10. Routledge and Kegan Paul. Londres. 1936.

7 LANGE, Hans-Jürgen. Weisthor: Karl Maria Wiligut - Himmlers Rasputin und seine Erben. 1998

8 Paravra que em inglês significa “paganismo” “gentilismo”, por ser muito usada mesmo por fieis latinos, a inclui aqui como um conceito que abrange todas as vertentes do paganismo germanico.

9 Solstício de verão.

10 Goodrick-Clarke, Nicholas. As raízes ocultistas do nazismo: Segredos arianos, Cultos e sua influência sobre a ideologia nazista . NYU Press. 1993

11 Toda esta seção do poema foi retirada de edições posteriores recolhidas de Auden, mas aparecem em “The Inglês Auden”, editado por Edward Mendelson (Faber and Faber, 1977), p. 189. Onde se encontra o original: My name occurs in several of the sagas, Is common over Iceland still. Down under Where Das Volk order sausages and lagers I ought to be the prize, the living wonder, The really pure from any Rassenschänder, In fact I am the great big white barbarian, The Nordic type, the too too truly Aryan.

12 Cartas de Tolkien, em: Humphrey Carpenter: The Letters of J. R. R. Tolkien, Editorial comments at the head of Letter. 1981

13 Compare Introvigne, Massimo (2001). Massimo Introvigne, Centro studi sulle nuove religioni , ed. Enciclopedia delle religioni em Italia [ Enciclopédia das religiões na Itália ] . Religioni e movimenti (em italiano) 51 . Elledici. p. 705.

14 http://www.odinic-rite.org/main/

15 Strmiska & Sigurvinsson 2005 , p. 127; Adler 2006 , p. 286.

16 Strmiska 2000 , p. 108.

17 ibid

18 ibd

19 Strmiska & Sigurvinsson 2005, pp. 166–168.

20 Blain 2005, p. 191; & Strmiska Sigurvinsson 2005, p. 133.

21 Adler 2006, pp. 297-299.

22 http://www.angelfire.com/wy/wyrd/index2.html e http://www.fornsed-brasil.org

23 Na página se encontra o aviso: Esta Pagina foi criada em/25/Maio/2249 R.E./(Era Runica/Runic Era)/Atualizada em / Updated at/18/JUN/2004 C.E. Era rúnica se refere ao calendário adotado pelos pagãos germânicos onde se começa a contagem 250 anos antes do calendário gregoriano, pois se acredita que ai seria o ano que Odin teria entregue as runas aos homens. Vide PAXON. 2009.

24 Disponível em: http://www.fornsed-brasil.org/quem.html. Acessado em 7 de setembro de 2009.
25 No Brasil surge o Clã Falkar, filiado a Irmandade do México. O Clã é uma subdivisão da irmandade, uma união de várias famílias que formaria a tribo visigoda. Quem os membros da irmandade reclamam ser os herdeiros.

26 Serviço on line de armazenamento de paginas.

27 FALKAR, Adeltrud. Gudja. Disponível em: http://br.geocities.com/visgothbr3/gudja.html acessado em 15 de março de 2007.


Referências 

LANGE, Hans-Jürgen. Weisthor: Karl Maria Wiligut - Himmlers Rasputin und seine Erben. 1998

LANGER, Johnni. Religião e magia entre os vikings: uma sistematização historiográfica. Brathair 5 (2), 2005, p. 55-82. Disponível em: http://brathair.com/revista/numeros/05.02.2005/magia_viking.pdf Acesso em abril de 2010.

_____ Deuses, monstros, heróis : ensaios de mitologia e religião viking. Brasília: Editora da UNB, 2009a. Revista Brasileira de História das Religiões. ANPUH, Ano III, n. 7, Mai. 2010 - ISSN 1983 2850 http://www.dhi.uem.br/gtreligiao-Resenhas362.

_____ Vikings. In: FUNARI, Pedro Paulo Abreu (Org.). As religiões que o mundo esqueceu: como egípcios, gregos, celtas, astecas e outros povos cultuavam seus deuses. São Paulo: Editora Contexto, 2009b, p. 131-144.

 _____ & CAMPOS, Luciana de. The wicker man: reflexões sobre a wicca e o neo-paganismo. Fênix: Revista de História e Estudos Culturais 4 (4), 2007, p. 1- 21.Disponível em: http://www.revistafenix.pro.br/PDF11/ARTIGO.2.SECAO.LIVREJOHNNI.LANGER.pdf Acesso em abril de 2010. PRICE, Neil. L’sprit Viking: magie et mentalité dans la societé scandinave ancienne. In:BOYER, Régis (ed.). Les Vikings, premiers européens. Paris: Éditions Autrement, 2005, p. 196-216.

Fontes: ainda sob segredo de pesquisa

Visigoth Heathinu

Visigoth Heathinu